Pessoas que tiveram contato com a água das enchentes que acometem o Rio Grande do Sul e que estão desalojadas e/ou em abrigos devem receber de forma prioritária algumas vacinas contra infecções e doenças respiratórias. É o que preconiza uma nota técnica da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), feita em conjunto com outras sociedades médicas. O documento indica a priorização da vacinação em desalojados, abrigados, voluntários de abrigos, socorristas, médicos, veterinários e grupos prioritários, como crianças, idosos e gestantes.
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A recomendação para evitar surtos é a aplicação das vacinas contra Covid-19, influenza, sarampo, caxumba e rubéola (tríplice viral), todas ligadas a doenças de cunho respiratório e mais suscetíveis de se propagar em aglomerações. A nota também recomenda a vacinação contra a hepatite A e B, contra o tétano e a febre tifoide, doenças causadas pelo contato com água e alimentos contaminados.
A indicação leva em conta o momento de emergência, no qual essas pessoas foram e estão continuamente expostas aos patógenos causadores dessas doenças. No caso dos desalojados e abrigados, pesa também o fato de que elas dificilmente estarão em posse da carteira de vacinação para confirmar se estão ou não protegidas.
“Sem comprovação da vacinação prévia, será preciso tomar a vacina indicada, com os esquemas completos, preconizados para sua faixa etária e situação de saúde”, explica a diretora da SBIm e gerente de Farmacovigilância do Butantan, Mayra Moura.
Em algumas cidades há sistemas digitais que conseguem recuperar os dados da carteira de vacinação, porque o Programa Nacional de Imunizações (PNI) faz registro há bastante tempo de doses aplicadas. Já o registro nominal que indica quem tomou a vacina X no dia Y é recente.
“O registro nominal das vacinas no serviço público começou com a vacinação contra a Covid-19, com o certificado de vacinação nominal, e quando foram incluídos os dados em aplicativo. Mas esse registro para todas as vacinas começou a ser implantado em 2023, não considerando o histórico vacinal”, afirma Mayra.
Durante a vacinação dos públicos-alvo, os vacinadores consideram requisitos como idade, se a pessoa é imunodeprimida ou está grávida, e respeitam o calendário de vacinação do PNI. Em resumo, uma criança ou um idoso só precisará ser vacinado nestas condições se as vacinas indicadas forem previstas para sua faixa etária. Já em gestantes e imunossuprimidos há outros requisitos que devem ser levados em conta.
“A tríplice viral não é indicada para gestantes nem para imunodeprimidos porque é uma vacina de vírus atenuado. Também evitamos as vacinas de vírus atenuado em idosos, a depender do estado de saúde deles”, ressalta.
Mayra lembra que a vacina contra hepatite A foi incluída no PNI somente em 2014 e para crianças até 4 anos, o que indica que um grande contingente de jovens, adultos e idosos estão desprotegidos contra o vírus. A hepatite A é uma infecção viral transmitida por meio do contato com água onde há fezes contaminadas e pelo consumo de alimentos contaminados, mas a doença pode ser prevenida com a vacina.
“Somos um país endêmico em hepatite A, ou seja, podemos contrair o vírus com facilidade, e quem contraiu já está imune. Mas tem muita gente que cresceu sem ter a doença e sem se vacinar, e são elas que preocupam neste momento”, esclarece.
Para socorristas, médicos, veterinários e voluntários, em especial, algumas vacinas são indicadas pelo contato com a água e alimentos contaminados. E quem possivelmente foi mordido por animais ou ferido por instrumentos cortantes deve considerar a vacinação contra raiva e contra o tétano, respectivamente.
O risco da raiva é maior entre as pessoas que resgatam animais ou que estão tratando os animais resgatados e podem ser feridos acidentalmente por eles. “No geral, os veterinários já são vacinados previamente contra raiva, mas a depender do ferimento, vão precisar fazer uma vacinação pós-exposição”, conta.
Para os socorristas de animais, vale ressaltar que não é qualquer animal que é vetor da raiva, mas os cães, gatos, morcegos, macacos, bovinos e raposas. “Não tem como contrair raiva no contato com cavalos, galos e galinhas. No entanto, basta um arranhão dos animais vetores para uma possível infecção acontecer e, por isso, a vacinação pós-exposição é indicação imediata”, esclarece Mayra.
Para aqueles que têm a indicação de tomar as vacinas, mas não tem certeza se já as tomou em algum momento da vida, a gestora enfatiza que não há risco à saúde caso as receba novamente. “Na dúvida, é melhor se vacinar do que correr o risco de estar desprotegido, de contrair uma doença que pode ser tão grave quanto o tétano e a raiva. Não há contraindicações em ser revacinado com esses imunizantes”, afirma Mayra.
Em relação ao risco de tétano, Mayra esclarece que o reforço da vacina é indicado a cada dez anos e que, por muita gente não manter esse esquema em dia, o imunizante é totalmente indicado em caso de feridas na pele, sobretudo após algum acidente com objetos cortantes ou perfurantes, causadas no contexto dos alagamentos.
Além dessas indicações, Mayra enfatiza a importância de receber as vacinas indicadas independentemente de apresentar sintomas. “Em casos como a raiva e o tétano, a apresentação de sintomas já indica uma gravidade da doença, então não precisa esperar se houver indícios de contaminação”, esclarece.
À medida que a vida e as condições sanitárias forem retomadas nos locais de desastre, é importante manter a vacinação em dia, como medida de saúde pública.
“Além das vacinas orientadas pela exposição, é importante manter a vacinação de rotina em dia, sobretudo nas crianças, adolescentes, adultos e idosos, levando em conta o calendário do PNI, para evitar outras emergências em saúde”, conclui.
Vacinas contra influenza e Covid-19
Indicadas a partir dos seis meses de idade
Vacina contra hepatite A
Em situações excepcionais de emergência em saúde pública, na falta da formulação da vacina hepatite A adulto, poderá ser utilizada a vacina pediátrica com o dobro da dose (aspirar 2 fracos para completar 1,0 mL), com aplicação intramuscular.
Vacina contra o tétano (para não vacinados nos últimos cinco anos ou sem carteira de vacinação)
Vacina contra raiva
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